Pesquisas Eleitorais
Cenários apresentados pelas pesquisas de opinião sobre as eleições presidenciais de 2022 e as estratégias adotadas pelos principais candidatos
Por Gabriel Rodrigues Martins, historiador e graduando em Ciência Política pela Universidade de Brasília
Brasília, 17/12/2021
As pesquisas de opinião dos eleitores publicadas recentemente mostram um cenário muito semelhante: o ex-presidente Lula (PT) segue liderando com ampla vantagem em todas elas, seguido pelo presidente Bolsonaro (PL), que, mesmo perdendo apoio, vem se mantendo na segunda posição.
Muitos analistas diziam que Sérgio Moro (Podemos) se consolidaria como o candidato da segunda via e que possivelmente ultrapassaria Bolsonaro já no início do próximo ano. Apesar disso, as pesquisas apontam que o crescimento do ex-juiz na corrida eleitoral parece estar se aproximando do limite, visto que as intenções de voto não vêm aumentando significativamente nos últimos levantamentos.
Outro pré-candidato com potencial e que, a exemplo de Moro, não vem crescendo tanto nas pesquisas é Ciro Gomes (PDT). Ele parece ter atingido o teto de intenções de voto e não consegue marcar mais de um dígito percentual.
Apontadas as situações dos principais pré-candidatos, é possível entender quais são as estratégias que cada um vem adotando e quais poderiam optar.
As pesquisas mostram que Lula tem menos votos no segmento empresarial, o que significa que deve tomar medidas que atraiam esse grupo para se consolidar na primeira posição e até almejar uma vitória no primeiro turno nas próximas eleições. O ex-presidente já vem agindo neste sentido, quando se aproxima de Geraldo Alckmin (sem partido), um nome que é muito bem visto no meio corporativo. Alckmin saiu recentemente do PSDB e tem feito sinalizações a Lula, elogiando o pré-candidato, que também retribui os acenos.
Uma chapa com os dois nomes poderia atrair parte do empresariado que ainda desconfia do petista. Não obstante, devido ao fato de que os dois já foram adversários políticos por muito tempo, também há a possibilidade de as respectivas bases eleitorais enxergarem a parceria com maus olhos, portanto, existe um risco desta união sofrer algum tipo de rejeição.
Em relação a Bolsonaro, é importante que a análise da sua pré-candidatura seja feita em paralelo com a de Lula. Isto porque há certa semelhança entre a base eleitoral que o presidente tinha em 2018 e que o petista possui nos dias de hoje.
O atual presidente foi eleito em 2018 com apoio de boa parte dos votos dos eleitores que possuíam rendimentos inferiores a dois salários mínimos e, atualmente, tem perdido o apoio desse mesmo grupo para Lula, que compõe uma importante fração da base eleitoral do petista.
Ocorre que para retomar os votos do referido segmento, Bolsonaro decidiu criar o Auxílio Brasil, um programa social que substitui o que foi implementado pelo ex-presidente (Bolsa Família) e que ao longo dos anos vem favorecendo a parcela da população mais pobre. Com isso, o presidente pretende demonstrar aos eleitores que ele implementou uma política que os beneficia ainda mais que o programa anterior, pois a nova política estabelece um valor mínimo de pagamento superior e também engloba maior número de beneficiários.
Analisando somente os dois candidatos, é possível notar que hoje eles ocupam posições opostas, pois Bolsonaro possui um bom apoio entre os empresários, ao passo que o nome de Lula tem certa resistência entre eles, e o ex-presidente tem apoio dos mais pobres, que são os que mais rejeitam o pré-candidato do PL. No entanto, ambos vêm adotando estratégias para se aproximarem desses dois grupos, o que pode fazer com que se consolidem nas duas primeiras posições.
Bolsonaro possui uma vantagem frente aos demais por ser o atual mandatário do País. Tem em suas mãos a Máquina Pública e, portanto, grande possibilidade de articulações com outros atores políticos, além do poder de implementar políticas que o favoreçam nas eleições de 2022.
Quanto a Sergio Moro, existe uma inconsistência no que os especialistas afirmam sobre a sua escalada nas pesquisas. O pré-candidato do Podemos parece ter se aproximado do topo das intenções de voto. Para mais, o nome do ex-ministro da Justiça passa por resistência de parte do eleitorado de Lula, Bolsonaro e também de Ciro Gomes, o que faz com que tenha a terceira maior rejeição das pesquisas eleitorais.
A principal pauta do ex-juiz é o combate à corrupção, que tem uma boa aderência com parte das classes média e alta, entretanto, é uma agenda muito nichada e não tem tanto engajamento nas camadas mais pobres da população, o que desfavorece o pré-candidato.
No tocante a Ciro Gomes, a análise se assemelha um pouco à que foi feita sobre Moro. O pedetista segue estacionado com apenas um dígito nas intenções de voto e, assim como o ex-juiz, possui uma agenda muito específica, voltada principalmente a questões relacionadas à economia. Por mais que o tema seja de suma importância, ele é discutido por uma parcela muito pequena da população e isto limita o aumento de capital político do pré-candidato.
Embora sua rejeição seja menor que a do ex-ministro da Justiça, seu discurso se concentra muito no grupo dos brasileiros mais escolarizados, o que faz com que suas propostas não circulem tanto em outras esferas.
Em resumo, vale lembrar que as pesquisas eleitorais são diagnósticos temporais, dito de maneira mais simples, elas se referem apenas a um recorte realizado no momento em que foram feitas, portanto, elas não podem apontar certezas para as eleições, que ocorrerão apenas no fim do próximo ano. Todavia, elas apontam tendências, as quais indicam a consolidação de Lula e Bolsonaro como principais postulantes ao cargo de presidente da República no pleito de 2022.
Como dito anteriormente, a projeção realizada por alguns especialistas de que Moro ultrapassaria Bolsonaro no início do próximo ano parece mais distante. De modo geral, é muito difícil que o presidente que busca reeleição não esteja nas duas primeiras colocações da eleição, isso porque, ele é quem conduz a Máquina Pública e, desse modo, tem algumas vantagens estratégicas em relação aos demais concorrentes.
Já Lula aparenta ter se consolidado como o principal nome de oposição ao presidente, o que constrói uma natural disputa entre as duas figuras e limita o crescimento de outros nomes nas pesquisas.