Atentados elegem presidentes?

A tentativa de assassinato a Trump o tornará o próximo presidente dos Estados Unidos?

Por Álan Braga, cientista político e especialista em relações internacionais

Brasília, 17/07/2024

O mundo viu as imagens da tentativa de assassinato ao ex-presidente dos Estados Unidos e candidato republicano a presidência, Donald Trump, que aconteceu no último sábado (13) em um comício na Pensilvânia. A imagem rodou o mundo nas redes sociais, grande mídia e a partir disso surgem diversos “analistas” reverberando a opinião principal do senso comum: “a tentativa de assassinato a Trump o tornará o próximo presidente dos Estados Unidos”. Donald Trump é favorito para conquistar a presidência, segundo o agregador de pesquisa da agência Reuters, ele aparece 2% à frente de Joe Biden, praticamente em um empate técnico, ao considerarmos a margem de erro dos levantamentos. 

Trump é sim favorito para voltar ao governo, mas não pelo simples fato de ter sobrevivido ao atentado contra sua vida, e vou tentar te convencer disso. A vida política americana não difere muito da brasileira no quesito violência política, com um breve google percebemos que na história da república yanke já ocorreram 16 atentados diretos contra presidentes ou candidatos à presidência do país, logo, violência política, como muitos com a famosa “síndrome de vira-lata” tentam afirmar, não é exclusividade latino americana.
Dos 16 atentados, exclui os que ocorreram no século XIX e os que ocorreram contra Franklin D. Roosevelt, que teve um longo mandato devido à situação de guerra mundial em que os Estados Unidos atravessaram na época. Em 1912, Teddy Roosevelt concorrendo à presidência dos Estados Unidos foi baleado e ferido em campanha, entretanto, Teddy, que tentava um terceiro mandato, não conseguiu concorrer pelo Partido Republicano e tentou a corrida eleitoral por um partido menor, perdendo para o democrata Woodrow Wilson.
Em 1950, Harry S. Truman, presidente em exercício, sofreu uma tentativa de assassinato, onde foram disparados tiros contra a residência do presidente na época, Blair House. O atentado resultou na morte de um policial e em dois feridos, Truman não foi ferido diretamente, apesar do atentado, nas eleições de 1952 os democratas perderam e Truman não conseguiu fazer seu sucessor, o republicano Eisenhower foi eleito presidente.
Em setembro de 1975, Gerald R. Ford, presidente republicano em exercício que assumiu após a renúncia de Nixon e Spiro Agnew, sofreu duas tentativas de assassinato. Na primeira tentativa, a pistola falhou e na segunda tentativa, a atiradora errou o presidente americano. Ford concorreu às eleições para um 2º mandato, entretanto, foi derrotado pelo democrata Jimmy Carter nas eleições de 1976. 

Em 1981, durante seu 1º ano de mandato, Ronald Reagan sofreu uma tentativa de assassinato, sendo baleado após um compromisso oficial. Reagan teve seu pulmão perfurado. Nas eleições de 1984, Reagan foi reeleito para mais um mandato à frente dos Estados Unidos. Em 1994, Bill Clinton sofreu um atentado a tiros contra a Casa Branca, Clinton não se feriu e foi reeleito presidente nas eleições de 1996.
Em maio de 2005, uma granada foi lançada contra o presidente Bush em uma reunião pública na Geórgia. A granada não explodiu e Bush, que já estava em seu 2º mandato, não conseguiu fazer seu sucessor, John McCain. Em 2008, o democrata Barack Obama foi eleito presidente dos Estados Unidos. 

Obviamente, toda a descrição feita acima não é nada metodológica e é feita justamente para confrontar o reducionismo criado pela grande mídia e o senso comum em torno de atentados políticos. Ora, se sofrer um atentado mudasse a opinião pública a ponto de garantir uma eleição, como é dito por aí por “analistas” políticos, não teríamos tantos presidentes ou candidatos que foram vítimas e perderam, ou não fazendo sucessores. 

Trump não será eleito por ter sobrevivido ao atentado, e seu favoritismo se dá por uma complexidade de fatores, como o desempenho econômico do governo Biden, que convive com taxas de juros altas para a realidade norte-americana, no mesmo patamar das vistas na crise de 2008.

Além disso, Biden passa uma imagem de fragilidade aos eleitores, segundo pesquisa do Pew Research Center, apenas 24% dos eleitores americanos enxergam Biden como plenamente capaz mentalmente. Biden sofre uma crise de credibilidade, em virtude das frequentes “gafes” públicas associadas pelo eleitor médio a sua idade avançada. Aliado a tudo isso, o governo Biden sofre desgastes internos pelo apoio, bilionário, à Ucrânia e a Israel. 

Logo, igual a todos os casos citados, o atentado contra o presidente ou candidato não determina o resultado das eleições, que envolve questões objetivas e subjetivas muito mais complexas do que isso, e nesse caso também não determinará. 

Outra frente de debates que o atentado pode fomentar é o “gun control”, em que os democratas, justamente os opositores de Trump, defendem uma maior regulamentação do acesso às armas, em alguns estados norte-americanos é muito fácil adquirir armamento pesado. De forma oposta aos democratas, os republicanos certamente não entrarão nesse ponto e se aterão a utilizarem o atentado para reforçar a ideia de Trump como um político antissistema, que supostamente incomoda os poderosos. 

Trump tem em mãos uma foto forte de seu atentado, que com certeza ajudará a arregimentar ainda mais seus seguidores, entretanto, não é isso que o fará vencer. Biden ainda tem a chance de tornar a disputa mais acirrada, desistindo dela, afinal, os eleitores não o enxergam como plenamente capaz de liderar o país por mais 4 anos, aliado a isso, seu governo conta com 57% de desaprovação, fatos que tornam Biden inviável eleitoralmente.

Fontes: 

https://g1.globo.com/mundo/noticia/2024/07/14/atendados-diretos-contra-presidentes-e-ou-candidatos-eua.ghtml

https://www.poder360.com.br/infograficos/leia-em-10-graficos-um-raio-x-das-eleicoes-nos-eua/

https://tradingeconomics.com/united-states/inflation-cpi

https://tradingeconomics.com/united-states/interest-rate

https://www.pewresearch.org/politics/2024/07/11/amid-doubts-about-bidens-mental-sharpness-trump-leads-presidential-race/

https://www.reuters.com/graphics/USA-BIDEN/POLL/nmopagnqapa/

https://projects.fivethirtyeight.com/biden-approval-rating/

https://www.270towin.com/historical-presidential-elections/

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