Eleições Americanas 2024: Perspectivas
Perspectivas e cenários para as eleições americanas de 2024.
Por Álan Braga, cientista político e especialista em relações internacionais
Brasília, 22/01/2024
Na última semana, foi realizado o Caucus de Iowa, a tradicional primeira etapa das primárias das eleições presidenciais dos Estados Unidos. O resultado das primárias do partido Republicano foi como o esperado, uma vitória acachapante de Donald Trump, ex-presidente americano e que busca novamente a cadeira, com 51% dos votos.
Em 2º lugar nas primárias de Iowa ficou o pré-candidato Ron DeSantis, atual governador da Flórida, que, mesmo sendo um importante nome do partido republicano, só conseguiu 21% dos votos.
O leitor pode se questionar, por que esse resultado, de um pequeno estado americano, importa tanto? Afinal, Iowa tem 3 milhões de habitantes e está longe de ser um dos estados mais relevantes dos Estados Unidos.
A resposta é bem simples: Iowa, por ser a primeira etapa das primárias, ajuda os candidatos a projetarem suas candidaturas como viáveis nacionalmente. Porém vale ressaltar que apesar da sua importância, candidatos que ganharam Iowa em eleições passadas não necessariamente conseguiram a nomeação para concorrer a eleição presidencial.
Com o disclaimer acima, reitero que esse não será o caso de 2024. Trump é uma figura extremamente popular, amplamente conhecida, afinal, já ocupou a cadeira de mais visibilidade do mundo há cerca de 4 anos. Além disso, DeSantis, apesar de governar um estado importante no xadrez político estadunidense, não se mostrou viável em arregimentar massas, como seu oponente.
Inclusive no primeiro domingo após o caucus, DeSantis desistiu de sua candidatura e apoiou o ex-presidente Trump, o que facilita ainda mais o caminho de Donald Trump na busca da nomeação pelo partido Republicano. Trump é amplo favorito para vencer a nominação republicana e, hoje (janeiro de 2024), o maior risco a sua candidatura está no judiciário americano. Os Estados Unidos, diferentemente do Brasil, não possuem uma justiça eleitoral unificada, o que prejudicou a análise judicial das ações e omissões de Trump em face ao 6 de janeiro (invasão do capitólio) e sua tentativa de interferir na contagem de votos, em seu áudio vazado pressionando o secretário de estado da Georgia para uma recontagem de votos.
O ex-presidente encontra-se inelegível nos estados de Colorado e Maine. A justiça dos estados utilizou como base a 14ª emenda da constituição, que traz a redação de que: um cidadão que fez um juramento de apoiar a Constituição e depois esteve em insurreição é inelegível para ocupar um cargo novamente. Dada a redação, os estados consideraram o juramento de Trump perante a Constituição para se sagrar presidente, bem como o seu apoio ativo e tácito ao 6 de janeiro, como uma insurreição contra os Estados Unidos.
O ex-presidente recorreu a Suprema Corte para anular essas condenações, bem como reprimir outros estados de o declararem inelegível – visto que existem processos em vários estados com o mesmo teor. O principal argumento de Trump é: não ter sido condenado por seus atos no 6 janeiro, ou seja, como poderia ser inelegível por uma situação em que é inocente – lembrando que a regra no direito ocidental é: você é inocente até que se prove o contrário. Além disso, Trump conta com uma corte majoritariamente conservadora – 6 juízes indicados por republicanos e 3 indicados por democratas.
Dado todo o cenário, é mais provável que Trump de fato concorra em todas as primárias americanas, sendo o amplo favorito para reeditar disputa contra Joe Biden pela presidência da maior potência econômica e militar do planeta. Caso vença seus entraves legais, em janeiro de 24, Trump é favorito para ser novamente presidente dos Estados Unidos. Segundo as 10 principais pesquisas de opinião americanas, Trump vence Biden em 6 delas, ficando atrás em duas e na pesquisa do The Economist/YouGov existe um empate entre os dois candidatos. Na média das pesquisas, Trump aparece à frente, sempre por pouca margem.
Por que Biden é mal avaliado e, na maior parte dos cenários, perde a reeleição? O cenário americano é parecido com as eleições brasileiras, um candidato muito popular de extrema direita, com ampla penetração na sociedade e com bastante resiliência (apesar de todas as denúncias, Trump segue favorito entre os republicanos e nacionalmente), entretanto, seu oponente, Biden, em nada se assemelha a Lula – que também tem uma grande penetração popular e uma alta resiliência. Biden é mais burocrático, menos popular e mais dependente dos feitos de seu governo, e aí entra um grande problema.
Ao olhar os dados econômicos de 2024, você pode até se surpreender com Biden não estar à frente, afinal, a inflação está em 3%, o desemprego em 3,7% e um bom crescimento do PIB de 2,6%. Entretanto, este foi apenas o ano de 2023 de Biden. De 2021 a 2024, a população americana – que não está acostumada com a doença da moeda – viu a taxa de inflação sair de 1% para um pico de 8% em 2022, além disso, a população vivenciou os juros de seu país chegarem ao maior patamar em 22 anos, um remédio utilizado pelo Banco Central americano para tentar frear a pressão inflacionária.
Ademais, a figura de Biden é vista com desconfiança por boa parte da população norte americana, justamente por conta da sua demonstração de fragilidade, em virtude da idade (81 anos). Segundo pesquisa da NBC, 59% dos eleitores enxergam a saúde de Biden como uma “grande preocupação”, o presidente de fato se mostrou confuso em algumas entrevistas, além de ser uma figura de menos vigor físico e energético, ao comparado com Trump.
Por fim, a condução da política externa de Biden também é bastante criticada, o apoio incondicional a Israel, mesmo diante de imagens e números alarmantes do conflito, causa um desgaste de Biden entre os eleitores mais jovens (18 a 29 anos, mais propensos a apoiar a causa palestina, segundo pesquisa do Ney York Times). Além disso, a retirada das tropas do Afeganistão, com as fortes imagens da rápida retomada do Poder do Talibã e os bilhões em ajuda militar a Ucrânia, são outros episódios que desgastam o atual presidente.
As eleições ocorrem em novembro, e ainda há muito por vir. Mas hoje, o principal desafio de Biden é mostrar a população sua capacidade de governar mais 4 anos, bem como seus resultados econômicos. Para Trump, seu principal desafio parece ser na justiça, além disso, explorar as maiores fragilidades de Biden, em uma provável disputa entre os dois.
Em janeiro de 2024, Trump é favorito para ser o próximo presidente dos Estados Unidos, entretanto, a política é como o clima, tudo pode ir conforme as previsões, mas um pequeno evento pode escalar e alterar todo o cenário pavimentado.